De São Mateus do Sul ao coração das tribos indígenas no Acre: conheça essa experiência

 De São Mateus do Sul ao coração das tribos indígenas no Acre: conheça essa experiência

A são-mateuense Amanda Zultanski, também conhecida pelo nome indígena Mukani, compartilhou com exclusividade ao Portal 97 uma experiência transformadora vivida durante dois meses (agosto e setembro), junto a tribos indígenas no Acre. A jornada, marcada por desafios, aprendizados e uma conexão profunda com a natureza, revela a riqueza cultural e os desafios enfrentados pelas comunidades indígenas na região, confira.

A viagem começou com um imprevisto no aeroporto, quando Amanda e seus amigos indígenas perderam o voo para o Acre. Optando por uma jornada de ônibus que durou três dias, Amanda e outros dois amigos da aldeia Nova Vida chegaram à capital Rio Branco, onde passaram alguns dias antes de seguir para a floresta.

Em Rio Branco, Amanda foi conhecer o Museu dos Povos Acreanos, onde assistiu uma apresentação especial de um grupo da juventude Indígena, os Huni Kuî. Após alguns dias, o destino foi o coração da floresta, em Feijó, onde Amanda se dirigiu à aldeia Nova Vida. Ela relatou que foi recebida com fogos de artifício e uma recepção calorosa. A areia, o rio Envira e o espetáculo das festividades proporcionaram uma entrada emocionante na vida cotidiana da comunidade.

“Lá no terreirão, que é o espaço ali aberto, onde tem as festividades, as apresentações culturais, onde também tem a consagração das medicinas, tudo é lindo. A floresta, então, já estava ali. Eu cheguei a tarde lá. As mulheres e crianças usavam roupas pretas representando o jenipapo e vermelho representando o urucum, que são medicinas utilizadas através de pinturas corporais (grafismo)”, explicou Amanda.

Momentos da vivência

As cerimônias, as brincadeiras e o artesanato foram elementos marcantes da vivência. A são-mateuense destacou a energia única do local. “É algo fora do comum, porque você está no berço de onde tudo começou e tudo isso, essa cultura vivida lá em meio a toda aquela natureza é muito diferente, é muito único.”

A convivência com as crianças da tribo também deixou uma impressão positiva em Amanda. “O olhar das crianças, a pureza, a espontaneidade, a alegria, a luz que elas têm e como elas vivem, com os pais e entre as comunidades é muito lindo. As crianças são muito queridas, muito educadas e muito receptivas”, compartilhou.

Um local encantador

As paisagens únicas, o respeito pela natureza e a riqueza cultural das comunidades indígenas também foram destacados por Amanda ao Portal 97. Apesar dos desafios climáticos, como a falta de chuva, o que os levam a outras comunidades que possuem água potável em períodos de escassez, os indígenas da aldeia Nova Vida ensinam a virtude da solidariedade.

Entardecer na floresta
Foto: Arquivo pessoal

“Tudo lá é muito bonito, eles têm muito cuidado e respeito com a natureza. Temos muito o que aprender com os povos indígenas. Eles sabem viver em harmonia com a natureza e com tudo que ela proporciona, usando somente o necessário para viver, sem desmatar e destruir, pois eles sabem que na natureza encontram alimentos e tudo o que precisam como remédios. É uma farmácia ao ar livre”.

Sobre a alimentação, a são-mateuense contou que é vegetariana há 21 anos, e se adaptou aos costumes locais com facilidade, experimentando alimentos como batata, banana, tapioca e macaxeira. Ela ressaltou a qualidade da diversidade alimentar e a forma como os indígenas utilizam os recursos naturais que possuem, desenvolvendo uma culinária única, muito saborosa e o mais importante, nutritiva.

Aldeia Morada Nova

Após ficar um tempo em uma pequena aldeia, Amanda foi conhecer uma um pouco maior. “Nessa segunda aldeia que conheci, ela era maior, como uma cidadezinha, sabe, tem bastante famílias, várias casas, tem uma escola maior ali também. E foi bacana a experiência lá. Participei de um aniversário do cacique geral do povo Shanenawa (shane significa pássaro azul encantado, nawa significa povo), que reside nessa aldeia, o Carlos Brandão”, relatou Amanda ao falar sobre a aldeia Morada Nova.

A vivência não se limitou, pois Amanda também passou dias na aldeia São Francisco, onde enfrentou desafios, como a falta de energia elétrica e água potável. Ainda assim, a recepção calorosa e as amizades formadas tornaram a experiência inesquecível.

Aniversário do Pajé

De volta à capital Rio Branco em setembro, Amanda participou de uma vivência especial em comemoração ao aniversário de 84 anos de seu sogro, Pajé Isaka Huni Kuî. A festa incluiu a realização de rituais, como a sananga, e celebrações com a participação de estrangeiros e pessoas de várias partes do Brasil.

Aniversário do Pajé Foto: Arquivo pessoal

Ao refletir sobre sua experiência, Amanda ressaltou a transformação pessoal que vivenciou. “Voltei uma outra pessoa, com uma visão muito diferente. Na questão de consumismo, na questão da alimentação, de dar valor para coisas que quando a gente está aqui, numa rotina, é trabalho, sempre contra o relógio e a gente não se dá conta do que é a vida.”

Ela também expressou preocupação com as questões ambientais e fez um apelo para ajudar a preservar a cultura indígena e a floresta amazônica. “A floresta amazônica é muito rica, tem medicinas para tudo. E por isso, também é tão visada por pessoas gananciosas. Que pensam em só explorar, e não pensam em cuidar e proteger para que as próximas gerações também tenham acesso a essas medicinas, à água potável.”

A são-mateuense, afirmou que essa experiência a deixou mais forte, fisicamente e espiritualmente e encerrou a entrevista manifestando seu desejo de retornar às tribos e continuar contribuindo para preservar e fortalecer a cultura indígena. “Não vejo a hora de voltar, estou contando os dias, é algo que todos deveriam conhecer, é transformador”, encerrou.

Da redação Portal 97

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