Paraná Trifásico abre espaço para agropecuária crescer mais

 Paraná Trifásico abre espaço para agropecuária crescer mais

Foto: AEN

A Copel instalou 310 quilômetros de redes modernas de energia elétrica nos quatro cantos do Estado em 2020 dentro do Paraná Trifásico, o que é mais do que a distância entre Curitiba e Guarapuava, por exemplo. Mas esse linhão, como está sendo apelidado no Interior, representa apenas 1,24% do total de 25 mil quilômetros que serão implementados nos próximos anos no maior programa elétrico do Estado na era digital.

O Paraná Trifásico envolve investimentos de R$ 2,1 bilhões e será concluído apenas em 2025. O programa precisou ser escalonado porque não havia disponibilidade de insumos suficientes para instalação imediata dos equipamentos e do cabeamento. Serão instalados 2,5 mil quilômetros apenas em 2020.

“É o maior programa do Brasil para os produtores rurais”, afirma o governador Carlos Massa Ratinho Junior.

“As novas redes trarão aumento de produtividade. Vai transformar as cadeias produtivas do leite, da avicultura, piscicultura e suinocultura e, acima de tudo, vai levar energia de qualidade para o Paraná crescer em bom ritmo nos próximos 30 anos”, acrescenta. “A linha monofásica impedia saltos maiores, ampliações ou novas instalações porque a rede não suportava as tecnologias. O novo sistema elimina essa dificuldade”.

O superintendente de Projetos Especiais da Copel, Júlio Omori, afirma que esse programa atende uma reivindicação antiga de produtores rurais em relação à rede trifásica. “Precisamos fazer uma renovação da rede de distribuição. A monofásica teve seu mérito, a Copel foi uma das primeiras empresas do Brasil a levar energia para o campo, mas o objetivo na época era levar rede mais simples e mais barata. Quarenta anos se passaram e algumas já sinalizam a necessidade de renovação, além de que a confiabilidade no fornecimento de energia elétrica passou a ser cada vez mais importante para estes produtores”, destaca.

OESTE – A região Oeste, por exemplo, concluiu apenas 27 quilômetros de obras na rede trifásica até o momento, mas a sensação de cara nova no campo é nítida. O Paraná Trifásico começou a se materializar há dois meses em Matelândia e Serranópolis do Iguaçu, cidades que têm o Parque Nacional do Iguaçu como vizinho. Apenas entre as duas serão instalados mais de mil postes novos georreferenciados em oito etapas.

Essa é uma região com vocação agrícola (soja, milho e trigo) e com muitos aviários, critério que é um dos pilares do programa: beneficiar os colonos (produtores rurais) e a geração de novos negócios no campo. As cadeias do frango, do peixe, do leite e dos suínos, que exigem qualidade integral de energia, foram mapeadas e o programa foi iniciado pelas áreas mais degradadas com maior contingente de produtores desses ramos.

A Copel conta com 18 equipes próprias e terceirizadas trabalhando simultaneamente em três momentos nesse projeto no Oeste: uma cava os buracos onde ficarão os postes, outra instala os novos postes e a terceira fixa o cabeamento e os equipamentos necessários para garantir segurança energética.

A meta para a região Oeste é fechar 2020 com 300 quilômetros de redes trifásicas concluídas, com investimento de R$ 25,8 milhões. A região vai receber 3,1 mil quilômetros de novas redes trifásicas até o fim do programa, com R$ 260 milhões de investimentos.

MELHORIAS – A espinha dorsal da rede de distribuição no campo será totalmente trifaseada, substituindo a tecnologia monofásica implantada na década de 1980.

O programa retira os postes antigos do meio da plantação e coloca postes novos nas estradas rurais, o que facilita o acesso dos técnicos, e disponibiliza cabos mais resistentes contra as intempéries. Não são mais cabos nus de alumínio, mas cabos com capa protetora isolante contra toque de árvores, animais e demais objetos estranhos à rede.

Com o trifaseamento, haverá interligação entre as redes. O efeito será a criação de redundância no fornecimento, ou seja, redes que hoje estão próximas, mas não conversam, passarão a ser interligadas. Se a energia falha em uma ponta, a outra fornece o abastecimento e, em caso de desligamentos, os produtores rurais terão o restabelecimento da energia mais rápido. Os equipamentos inteligentes também identificam curtos circuitos mais rapidamente.

Os novos postes estão sendo enterrados 1,80 metro para dentro da terra, o que renova resistência contra ventos fortes. Alguns deles têm para-raios para ajudar a enfrentar as intempéries. “Os postes antigos suportavam ventos de 60 km/h ou 70 km/h. Os novos suportam ventos de mais de 100 km/h”, explica Lúcio Godoy, técnico da Copel que fiscaliza as obras do programa na região Oeste.

“Vamos tirar 90% dos postes que ficavam no mato, sujeito a quedas de árvores, e também evitar com que as lavouras sejam degradadas diante de eventual manutenção, que exige entrada de caminhões pelas plantações. Antigamente os colonos chegavam a ficar esperando com o trator para ajudar os caminhões da Copel a sair das roças, o que provocava estragos, era ruim para todo mundo”, afirma Godoy.

“Tivemos até uma grata surpresa porque costumava haver resistência com os postes na beira da estrada. Agora o que se fala é que os produtores rurais tiram até as pedras da estrada para o programa passar”, acrescenta.

A rede monofásica implantada na década de 1980 era mais barata porque permitia menos cabos (apenas dois) e postes com distâncias maiores entre si. Eram até 140 metros entre um poste do outro, agora a distância é de cerca de 90 metros.

Além de garantir energia de mais qualidade e com maior segurança, o investimento da estatal vai proporcionar o acesso do produtor rural à rede trifásica a um custo muito inferior ao que hoje é pago. Além disso, equipamentos com motores trifásicos normalmente são mais eficientes, baratos e têm uma taxa de falha menor. As redes elétricas trifásicas também favorecem quem pretende ser produtor de energia elétrica nas suas propriedades, pois a rede monofásica limita esta possibilidade.

As linhas têm conexões inteligentes com monitoramento constante da rede, chamados de religadores automáticos. Em Matelândia eles foram instalados em dois postes. Têm capacidade para identificar problemas e “abrem temporariamente” para passagens de eventuais curtos para evitar desligamento da rede, e então religam a energia sem precisar de interferência humana. Além disso, os equipamentos podem ser acionados remotamente pelo Centro de Operação da Copel em Curitiba, se preciso.

“Esse programa encerra uma época em que os colonos chegavam a pagar com sacos de milho uma instalação elétrica. Universalizamos o acesso à luz e agora estamos melhorando a qualidade e confiabilidade de todo o processo”, afirma Godoy.

“Temos grandes programas para melhorar o atendimento da distribuição de energia elétrica. Além do Paraná Trifásico, um projeto de tecnologia de ponta em gestão de redes de energia. Estamos colocando inteligência, softwares modernos e novos sistemas para serem operados diretamente do Centro de Operação, em Curitiba. Tudo será monitorado continuamente e com tempo de resposta cada vez menor”, complementa Omori.

AGRONEGÓCIO – Energia é um insumo cada vez mais importante no agronegócio. A produção evolui na mecanização, digitalização e nos processos de produção de animais, que têm uso intensivo de energia e novas tecnologias. A expectativa é de ajudar regiões produtoras numa estratégia integrada com o reforço de infraestrutura e logística na malha rodoviária (novo Anel de Integração) e na férrea (novos projetos que contemplam acesso entre Foz do Iguaçu e Paranaguá), e o novo status sanitário com o fim da vacinação contra febre aftosa.

“Teremos melhorias na qualidade de energia porque hoje há muita oscilação. Na rede monofásica os motores necessários para aviários e refrigeração de leite são naturalmente mais fracos. Com o sistema trifásico podemos dar mais carga aos motores e também diminuir o custo de energia”, afirma Silvio Krinski, engenheiro agrônomo e coordenador da gerência técnica da Ocepar.

“Na década de 80 levar um bico de luz era inovação. Estamos falando em conectividade. Luz não é mais uma inovação, mas um caminho. As fazendas precisam de estufas, sistema de irrigação, e algumas têm aviários ou sistemas de produção de leite com alta tecnologia agregada. Precisávamos de uma rede para sustentar essa tecnologia”, acrescenta.

De acordo com Irineo Costa Rodrigues, diretor-presidente da cooperativa Lar, o trifaseamento das redes de distribuição contribuirá muito com o crescimento da produção paranaense e do processamento industrial. Ele estima que o Paraná Trifásico ajude a dobrar a produção de frango na região Oeste.

“Hoje todo produtor de frango tem um gerador na propriedade, movido a óleo diesel, o que encarece a produção. Temos 850 associados que produzem frango e 280 que produzem suínos, além de centenas focados em leite. E há uma previsão de expansão nas atividades. Anunciamos R$ 1 bilhão em investimentos para gerar quatro mil empregos diretos. Vamos alcançar 1,5 mil associados apenas na cadeia do frango”, afirma. “O Paraná Trifásico vem em boa hora, era uma necessidade absoluta”.

José Arlindo Sehn, proprietário rural e ex-prefeito de Serranópolis do Iguaçu, cunhou o programa como linhão. “É a redenção da linha de Matelândia e Serranópolis do Iguaçu. Quando vinha uma nuvem a luz caía, o que me impedia de montar um aviário, os orçamentos para instalação trifásica individual eram muito altos. Com a nova linha vou investir em quatro aviários para 115 mil frangos”, afirma. “O agricultor precisa se sentir bem onde mora. Não pode faltar água e nem luz. Isso é história do passado. Estimo que a nova linha aumentará em R$ 20 mil o valor de um alqueire na região”.

CLIC RURAL – O Paraná Trifásico é uma evolução do Clic Rural, iniciativa que levou energia para mais de 120 mil propriedades rurais nos anos 1980 e se tornou o principal programa de eletrificação rural da época. Com ele, o Paraná se tornou o Estado com maior número de consumidores rurais ligados à rede de energia elétrica, o que contribuiu para dar condições a quem vivia no campo seguir trabalhando na terra.

Mas, para executá-lo e atender às necessidades do momento, a Copel definiu como estratégia diminuir as sofisticações técnicas e focar no barateamento dos serviços, para torná-los acessíveis. Na época, todas as redes instaladas eram monofásicas.

AEN

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